sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Retrato

Texto feito pelo professor Vinícius Alves para a exposição de fotos, resultado da disciplina de História da Fotografia.

O Retrato

O retrato, como conhecemos hoje, é uma evolução da linguagem proposta pela pintura renascentista. Essa linguagem consiste num primeiro plano bem próximo, onde se encontra uma pessoa. Ocupada a maior parte do quadro pelo personagem, resta então um plano de fundo, que até hoje é uma escolha feita à revelia por pintores e fotógrafos retratistas e que auxilia nitidamente a percepção de profundidade que a imagem acaba por possuir. A composição da imagem tende a formar um triângulo que parte da base do quadro e vai até a borda superior da tela. Assim, a técnica do retrato consiste basicamente em encaixar de maneira harmoniosa um triângulo (pessoa) dentro de um retângulo (quadro, tela). Além das questões que envolvem a composição do quadro em si, a luz do retrato renascentista não possui grande contraste entre claro e escuro (por exemplo A Gioconda), sendo ela a base para toda uma escola de retratistas que vieram com o tempo.
O Sec. XX tornou a fotografia, consequentemente o retrato, algo popular, o que permitiu aos mais pobres o direito a uma memória não mais restrita à oralidade, mas também a uma memória imagética, fotográfica, antes um direito dos aristocratas, que se viam retratados por grandes pintores, e dos burgueses, que encabeçavam as pesquisas a respeito das técnicas fotográficas que se sofisticaram desde então, culminando com o surgimento do Cinema. Em feiras livres, romarias, estúdios particulares, enterros, casamentos, o retrato atravessou o século XX e chegou a este século trabalhando em serviço da memória de pessoas que anseiam pela eternidade do registro fotográfico.
Olhando então para as fotos que fazem parte desta exposição percebemos uma atividade que extrapola o significado comum deste gênero artístico e dialoga, ora com as revistas de moda e seus ensaios, ora com fotos feitas para sites de relacionamento, demonstrando de forma consciente a beleza, a juventude e a vivacidade tanto do olhar que guiou a fotografia, quanto dos personagens fotografados. Se não está aqui proposta nenhuma mudança explícita no objetivo das fotografias, há a multiplicidade de estéticas envolvidas. As fotos possuem desde luzes renascentistas até altos contrastes em preto e branco. Uma forte veia Pop é também destaque de fotografias que fazem referência clara a estilos consagrados em seus personagens. Além disso, a consciência de estarem posando para uma lente é destaque na maioria dos clikcs, pois a concentração e entrega dos modelos ao seu personagem dão alma às fotos aqui vistas.
A memória, no entanto, pode se sentir contemplada, pois um dia veremos essas fotografias e inevitavelmente encontraremos a referência à tarde de conhecimento e criação que dividimos na escola. Esses mesmos retratos nos perguntarão e serão respostas a respeito do que representa a fotografia para nós quando nós somos os fotografados. Por outro lado, o que é a fotografia quando nós não somos o personagem representado nela? Essas fotos expostas aqui serão o traço da lembrança que nos faz acreditar que o personagem retratado é real. Elas nos mostrarão pequenos índices que nos farão dizer: “Olha aquela fotografia em que eu tô”. Elas nos farão realmente acreditar no seu realismo de ter sido daquela forma, com aquela cor e feição, pois são imagens reproduzidas por objetivas que enxergam o mundo tal qual ele é, ou seja, de papel e em duas dimensões.

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